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terça-feira, 21 de julho de 2009

O Perdão Transforma a Amargura em Amor

ÉLDER DAVID E. SORENSEN
Da Presidência dos Setenta- Conf. Geral - Abril/2003

O perdão significa que os problemas do passado não mais ditarão nosso destino, e que podemos concentrar-nos no futuro com o amor de Deus em nosso coração.
Não é maravilhoso ver os dons do Espírito que o Senhor deu ao Élder Nelson? Seus talentos abençoam não só a Igreja, mas o mundo todo.
Gostaria de falar-lhes hoje a respeito do perdão.
Cresci numa cidadezinha rural onde a água era a vida da comunidade. Lembro-me de pessoas de nossa comunidade constantemente procurando, preocupando-se e orando por chuva, pelos direitos de irrigação e a água de modo geral. Às vezes meus filhos me censuram dizendo que nunca viram alguém tão preocupado com a chuva como eu. Digo-lhes que isso deve ser verdade porque cresci num lugar em que a chuva era mais do que uma preocupação. Era uma questão de sobrevivência!
Sob o estresse e ansiedade causados por nosso clima, as pessoas nem sempre eram o melhor que podiam ser. Ocasionalmente, um vizinho brigava com outro porque um fazendeiro se excedia no tempo de utilização da vala de irrigação. Foi assim que começou uma rixa entre dois homens que moravam perto de nossa pastagem nas montanhas, a quem darei o nome de Chet e Walt. Esses dois vizinhos começaram a brigar por causa da água da vala de irrigação que compartilhavam. Foi algo bem inocente a princípio, mas ao longo do tempo os homens deixaram que suas diferenças se transformassem em ressentimento, depois em brigas, chegando ao ponto de ameaçarem um ao outro.
Certa manhã de verão, os dois homens sentiram que ficariam novamente sem água. Os dois foram à vala para ver o que tinha acontecido, cada um deles imaginando que o outro tinha-lhe roubado a água. Chegaram juntos à comporta. Trocaram palavras iradas e começaram a brigar. Walt era um homem muito grande e forte. Chet era pequeno, magro e muito vivo. No calor da briga, os homens usaram as pás que traziam como armas. Walt acidentalmente acertou Chet no olho com a pá, deixando-o cego daquele olho.
Meses e anos se passaram. Chet, porém, não conseguiu perdoar nem esquecer. O ódio que sentia por ter perdido o olho fervia dentro de si e foi ficando cada vez mais intenso. Certo dia, Chet foi até o estábulo, tirou a espingarda da parede, montou no cavalo e foi até a comporta da vala. Represou a vala, desviando a água da fazenda de Walt, sabendo que Walt logo apareceria para ver o que tinha acontecido. Chet, então, escondeu-se num arbusto e ficou esperando. Quando Walt apareceu, Chet matou-o com um tiro. Depois disso, montou no cavalo, voltou para casa, ligou para o xerife para informá-lo de que tinha matado Walt com um tiro.
Meu pai foi convocado para participar do júri que julgaria Chet por assassinato. Meu pai alegou estar desqualificado por ter sido amigo de longa data dos dois homens e de suas respectivas famílias. Chet foi julgado e considerado culpado de assassinato, sendo condenado à prisão perpétua.
Depois de muitos anos, a esposa de Chet procurou meu pai e pediu-lhe que assinasse uma petição ao governador rogando clemência para seu marido, cuja saúde estava debilitada após passar muitos anos na penitenciária do estado. Meu pai assinou a petição. Poucas noites depois, dois filhos adultos de Walt vieram até nossa casa. Estavam irados e perturbados. Disseram que por meu pai ter assinado a petição, muitas outras pessoas também o fizeram. Pediram a meu pai que retirasse seu nome da petição. Ele disse que não o faria. Achava que Chet estava doente e debilitado. Tinha sofrido por muitos anos na prisão por aquele terrível crime passional. Ele queria que Chet tivesse um funeral decente e fosse enterrado ao lado de sua família.
Os filhos de Walt ficaram muito zangados e disseram: “Se ele for libertado da prisão, vamos cuidar para que ele e sua família se dêem mal”.
Chet acabou sendo libertado e foi-lhe permitido voltar para casa para morrer entre os familiares. Felizmente, não houve mais nenhuma violência entre as duas famílias. Meu pai freqüentemente lamentava a tragédia que tinha acontecido entre Chet e Walt, aqueles dois vizinhos e amigos de infância, que se deixaram levar pela raiva e permitiram que ela destruísse a vida de ambos. Quão trágico foi permitir que a paixão do momento escapasse do controle, acabando por tirar a vida dos dois homens, simplesmente por não conseguirem perdoar um ao outro por causa de um pouco de água de irrigação.
O Salvador disse: “Concilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás no caminho com ele”1 ordenando-nos, portanto, que resolvamos nossas diferenças bem no início, para que a paixão do momento não se transforme em crueldade física ou emocional, e nos tornemos escravos de nossa raiva.
Em nenhum lugar esse princípio se aplica tanto quanto em nossa família. Nossa preocupação específica pode não ser a água, mas todos nós aqui na Terra, vivendo sob o estresse e a ansiedade causados por este clima telestial, teremos motivos, reais ou imaginários, para ofender-nos. Como iremos reagir? Ficaremos ofendidos? Culparemos os outros? Deixaremos que a paixão do momento sobrepuje nossa razão?
O Presidente Brigham Young comparou certa vez o fato de ficarmos ofendidos à picada de uma serpente venenosa. Ele disse: “Há dois cursos de ação a seguir quando se é picado por uma cascavel. A pessoa pode, por um sentimento de raiva, medo ou vingança, perseguir a criatura e matá-la. Ou pode-se apressar para tirar o veneno de seu corpo.”
Ele disse: “Se seguirmos o último curso é bem provável que sobrevivamos, mas se tentarmos seguir o anterior pode ser que não vivamos o suficiente para concluí-lo”. 2
Gostaria de aproveitar para lembrar que, antes de tudo, precisamos tomar cuidado em nossa família para não sermos nós mesmos a causa das picadas de serpente espirituais ou emocionais. Em grande parte da atual cultura popular, as virtudes do perdão e da bondade são desprezadas, ao passo que a ridicularização, a ira e as críticas severas são incentivadas. Se não tomarmos cuidado, podemos ser dominados por esse hábito em nosso próprio lar e em nossa família, e logo estaremos criticando nosso cônjuge, nossos filhos ou nossos parentes próximos. Não firamos aqueles a quem mais amamos com críticas egoístas! Em nossa família, pequenas discussões e críticas mesquinhas, se não forem corrigidas, podem envenenar o relacionamento familiar, chegando a transformar-se em desavenças, ou até em maus-tratos ou divórcio. Em vez disso, tal como aprendemos com o caso do veneno da serpente, precisamos “apressar-nos” em diminuir as discussões, eliminar a ridicularização, parar com as críticas e remover o ressentimento e a raiva. Não podemos permitir que essas paixões perigosas permaneçam em nossa mente, nem um dia sequer.
Comparem a trágica história de Walt e Chet com o exemplo de José do Egito. Os irmãos invejosos de José odiavam-no. Combinaram entre si tirar sua vida, mas por fim acabaram vendendo-o como escravo. José foi levado ao Egito e lutou por muitos anos para libertar-se da escravidão. Durante todo esse tempo difícil, José poderia ter condenado seus irmãos e jurado vingança. Poderia ter aliviado suas dores fazendo planos para vingar-se um dia. Mas não foi isso que ele fez.
José acabou tornando-se governador de todo o Egito, estando abaixo apenas do próprio Faraó. Durante uma terrível escassez, os irmãos de José viajaram para o Egito para conseguir alimentos. Sem reconhecer José, inclinaram-se perante ele devido a seu alto cargo. Sem dúvida, naquele momento José tinha o poder de realizar sua vingança. Poderia ter colocado seus irmãos na prisão ou tê-los condenado à morte. Em vez disso, confirmou seu perdão, dizendo: “Eu sou José vosso irmão, a quem vendestes para o Egito. Agora, pois, não vos entristeçais, nem vos pese aos vossos olhos por me haverdes vendido para cá; (…) Deus me enviou adiante de vós, para conservar vossa sucessão na terra, e para guardar-vos em vida por um grande livramento. Assim não fostes vós que me enviastes para cá, senão Deus”.3

O desejo que José teve de perdoar transformou a amargura em amor.
Gostaria de deixar bem claro que o perdão dos pecados não deve ser confundido com tolerância em relação ao mal. De fato, na Tradução de Joseph Smith, o Senhor disse: “ (…) Julgai com um julgamento justo”.4 O Salvador pede que perdoemos e combatamos o mal em todas as suas formas, e embora devamos perdoar uma pessoa que nos prejudicou, devemos ainda assim trabalhar construtivamente para impedir que a injúria se repita. Uma mulher que for maltratada não deve buscar vingança nem deve sentir que não possa tomar as medidas necessárias para evitar novos abusos. Uma pessoa de negócios que tenha sido tratada injustamente numa transação não deve odiar a pessoa desonesta, mas pode tomar as medidas necessárias para remediar o mal cometido. O perdão não exige que aceitemos ou toleremos o mal. Não exige que ignoremos o mal que vemos no mundo a nosso redor ou em nossa própria vida. Mas ao lutarmos contra os pecados, não podemos permitir que o ódio ou a raiva controlem nossos pensamentos ou ações.
O Salvador disse: “Portanto digo-vos que vos deveis perdoar uns aos outros; pois aquele que não perdoa a seu irmão suas ofensas está em condenação diante do Senhor; pois nele permanece o pecado maior”.5
Isso não quer dizer que o perdão seja fácil. Quando alguém nos magoa ou fere um ente querido nosso, essa dor pode ser quase insuportável. Pode-nos parecer que a dor ou a injustiça seja a coisa mais importante do mundo e que não temos escolha senão buscar vingança. Mas Cristo, o Príncipe da Paz, nos ensina um caminho melhor. Talvez seja difícil perdoar alguém pelo mal que nos infligiu, mas se o fizermos, abriremos para nós mesmos um futuro melhor. Os males cometidos por outras pessoas deixarão de controlar nossa vida. Quando perdoamos as pessoas, isso nos liberta para que escolhamos como viver nossa própria vida. O perdão significa que os problemas do passado não mais ditarão nosso destino, e que podemos concentrar-nos no futuro com o amor de Deus em nosso coração.
Que jamais permitamos que as sementes da ausência de perdão que marcaram a vida de meus vizinhos criem raízes em nosso lar. Oremos a nosso Pai Celestial que nos ajude a vencer o tolo orgulho, o ressentimento e a mesquinhez. Que Ele nos ajude a perdoar e amar, para que sejamos amigos de nosso Salvador, das pessoas e de nós mesmos. “(…) Assim como Cristo vos perdoou, assim fazei vós também.”6 Em nome do Senhor Jesus Cristo.
Amém.